terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Covardia domiciliar

Na casa de meus pais eu nunca havia lavado um copo.
Simplesmente comia, dormia e estudava. Não fazia idéia de onde vinha a comida e nem esquentava a moleira para o esforço que meu pai fazia para “colocar o feijão na mesa

Sem contar ainda que eu recebia a comida, quentinha, já servida no prato. E enquanto eu começava as primeiras garfadas, minha Mãe fritava ovos para completar a comilança.

As águas do rio Mucuri passaram (muitas águas, por sinal), cresci, tornei-me um homem e me casei. Foi uma cerimônia lindíssima e todo mundo estava muito feliz.

No dia seguinte, já estávamos em nossa casinha, desfrutando de uma preguiçosa manhã de verão. Foi quando aconteceu algo que mudou radicalmente a minha vida.

A minha esposa fez um delicioso almoço. Daqueles caprichados pra garantir a satisfação do maridão. A comida fumegava no fogão e o cheiro dava água na boca. Mais alguns minutos e tudo estava pronto. Só faltava comer.

A mesa foi posta cuidadosamente. Os pratos e talheres todos posicionados.
Foi quando a minha digníssima pegou o prato dela, foi até o fogão, se serviu, tomou assento à mesa e começou a comer.

Nisso, olhei estupefato para ela e perguntei:
- E eu ??? Quem vai servir o meu prato, amor???

Ela respondeu com uma estranha calma de assustar batalhões:
- Meu amor, a parte mais difícil eu já fiz, que foi cozinhar. Agora é só você colocar no prato.

Naquela hora a ficha caiu. Meus dias de mordomia haviam acabado (chorei amargamente, rs rs rs). A partir daquele momento entendi que a vida a dois requeriria mudanças drásticas em minha forma de ver o mundo.

Felizmente entendi que quando perdemos alguma coisa, podemos ganhar outra bem melhor. Com o passar dos anos nos tornamos parceiros e cúmplices. E sempre nos apoiamos mutuamente nos momentos mais difíceis.

A maioria das pessoas não consegue entender isso. E frequentemente homens e mulheres perdem grandes chances de serem felizes por simplesmente não querer se colocar no lugar do outro e reconhecer seus esforços.

Ah! Se eu tivesse atingido essa maturidade mais cedo. Teria ajudado muito mais à minha mãe (que hoje não vive mais). Teria arrumado mais vezes a minha cama ao levantar, teria guardado meus sapatos no lugar certo ou pelo menos tirado o prato da mesa ao terminar. Tento dia e noite fazer com que minhas filhas não cometam o mesmo erro.

Hoje me parece uma tremenda covardia sobrecarregar tanto uma mulher.
Recentemente uma amiga de uma cidade vizinha falou, assentada à nossa mesa, que seu marido simplesmente se virou pra ela e disse que não tava mais afim dessa “vida de casado”. Que não iria mais ajudar em nada. E foi mais longe. Deixou ela toda enrolada financeiramente, pois também se negou a ajudá-la nos compromissos financeiros feitos anteriormente. Uma covardia de enfurerecer até o paciente Dalai Lama.

Nesse ponto, começo a pensar como seria o mundo se fizéssemos apenas o que nos agradasse ou nos desse vontade. Com certeza nos degradaríamos tanto que desaparecíamos do planeta. Se bem que isso já aconteceu. Basta ler a história de Nóe e sua arca em Gênesis.

Vamos parar e pensar um pouco.
Tanta tecnologia no mundo e tanta falta de senso. O conhecimento global aumentando e a inteligência individual se perdendo ao redor do umbigo de quem acha que o universo gira em torno de si. Essa galera não sabe nem a hora que tá com fome.

Por falar em fome, já são 20:43
Vou pedir uma pizza pra turminha. O regime então, vai pras cucuias. Eita barriguinha difícil de tirar... !!!

9 comentários:

Shirle disse...

Nuss... Roberto... vc tocou em um ponto que sempre venho discutindo com minha mãe... ela é a culpada por deixar meus ex-namorados PERDIDOS, ela vive mimando quer que eu leve tudo nas mãos, iludir os coitados p/ que...? ela já me estragou, sempre fui servida, nunca fiz nada p mim vou fazer p os outros? Aff.. só o que faltava...
As mãe tem grande parte nisso tudo, ao tentarem dar o melhor para seus filhos esquecem que eles vão sair debaixo de suas asas e que o mundo não irá nos servir (infelizmente, rs). Resultado disso... pessoas muito individualistas.
Claro que não quero tirar a minha responsabilidade, tenho que aprender a cozinhar um dia desses, aprender a arrumar minha cama, lavar minha roupa, vasilhas...aff... Tanta coisa... Acho melhor eu continuar estudando, deixa isso para lá, nem queria casar msm... hehe

Ps.: Brincadeira viu... muito legal seu ponto de vista... raros são os homens que conseguem amadurecer a ponto de reconhecerem isso... parabens novamente... bjux!

Anônimo disse...

Bem Robert,

Sua "dialética" tem estado completa!

Seus textos começam muito bem humorados, criticos...Depois parte p um lado épico, profundo, cheio de liçoes sobre a vida, terminando com um jeitinho bem atual...como quem diz:

Olhe, apesar de ser um sabio sem precedentes, sou igualzinho a vc nobre leitor!

Sei que já te falei isso...mas como c choro tanto por um comentario...
Foi o jeit fala di nov né?!


Continue assim Robert, escreva mais materias, aguas passadas nao movem moinho.

Unknown disse...

SUA COLOCAÇÃO, COMO SEMPRE FOI DE MUITA VALIA. DEVEMOS MESMO OLHAR AO NOSSO REDOR, E NÃO SOMENTE PARA NÓS MESMOS, PRINCIPALMENTE QUANDO SE FALA DE VIDA A DOIS.
CONTINUE ESCREVENDO PALAVRAS SÁBIAS.
"...Fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado
compreender que ser compreendido
amar, que ser amado
pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se vive para a vida eterna."

Nando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nando disse...

Robert,caríssimo...tive uma experiência assim também,eu nunca havia me esquentado em saber de onde vinha a comida ou como minhas roupas apareciam limpas na gaveta!Nunca,até o dia em que resolvi ir morar com meu irmão,em Vitória ES.
Num belo dia de sol,ele saiu para trabalhar e eu fiquei deitado,quando deu a hora do "rango",fui ao fogão e cadê?Cadê a comida?Descobri que ele não tinha feito e que,pior ainda,eu não sabia fritar nem um ovo!Comi sanduiche o dia todo até a hora em que ele chegou!Mas logo logo eu aprendi a cozinhar!Depois disso,fui para BH , onde tinha de fazer tudo,inclusive pagar aluguel e comprar comida.Foi bom,pois hoje posso dizer que preciso de uma esposa apenas para repartir meus momentos bons e,por que não,ruins também.Fora disso,posso me virar sozinho!
Boa matéria!
P.S.: E Shirle,sua mãe quer apenas ser gentil! kkkkkkkkkkkkkk

Shirle disse...

Dispenso seus comentários sobre minha mãe... namorassemos mais 1 mes ela me colocava pra fora e te dava até minha cama...aff...
Tenho sorte em não ter sido substituida... mas, nem me lembre, esta pode ter sido um experiencia traumatica... vc realmente é uma pessoa apaixonante, minha mãe, vó, tia e amigos que o digam... acho que nessa cidade só eu via seus defeitos... kkkk, brincadeirinha... (mas, vc só era ruim comigo msm...rs)
Ah... Telminha tmem via... ao menos ela...rs

Nando disse...

nem vou comentar nada aqui,Shirle...

Mauriza disse...

Essa música do Zezé Di Camargo e Luciano, lembra um pouco a sua história....

No dia em que saí de casa

No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse:
Filho, vem cá!

Passou a mão em meus cabelos
Olhou em meus olhos
Começou falar

Por onde você for eu sigo
Com meu pensamento
Sempre onde estiver

Em minhas orações
Eu vou pedir a Deus
Que ilumine os passos seus....

Mauriza disse...

Essa Música de Zezé Di Camargo e Luciano lembra um pouco a sua história....

No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse:
Filho, vem cá!

Passou a mão em meus cabelos
Olhou em meus olhos
Começou falar

Por onde você for eu sigo
Com meu pensamento
Sempre onde estiver

Em minhas orações
Eu vou pedir a Deus
Que ilumine os passos seus